Feb 28, 2008

Cheap chat

Americano tem nome pra tudo. E uma das coisas que eu aprendi na prática nesses dias foi o cheap chat. Algo como jogar conversa fora, bater papo ou conversa furada.

Eu estava ali no aeroporto com as minhas duas longas horas de espera sozinha quando resolvi sentar na praça de alimentação ao lado do meu gelo com Coca light, porque os americanos não tomam coca com gelo. Já tentou pedir Coca com pouco gelo? Afe, parece que eu tinha pedido para colocarem um nugget ali dentro. Consegui uma mesa, abri meu atual livro preferido (Book Thief do Markus Zusak) e comecei a ler. Hum, que tentação aquela lojinha do Ben&Jerry ao lado, mas resisti.

Ai, muito educadamente, um senhor me perguntou se poderia dividir a mesa comigo. Claro, simpática mas não oferecida, e continuei lendo meu livro. Eu falei com o Felipe pelo telefone, disse que estava no aeroporto, blablabla, e desliguei.

"Você fala português?"

(Cada vez mais precisamos tomar cuidado, o mundo está sendo dominado pelas pessoas poliglotas!)

E ali foi mais de uma hora de cheap chat. Ele - que desconheço o nome - é um suiço que por causa da esposa se mudou para Portugal. Falei que não conhecia o país, mas como imaginava ser um lugar muito bonito.

"Sim, bonito, mas com muitos problemas. Quando você tem um probleminha na sua casa, por exemplo, com as janelas, não dá para chamar qualquer pedreiro. Você sempre pede indicação para um amigo que reformou a casa recentemente. Aí, vem o pedreiro, quebra sua casa toda, coloca uma janela que não é aque você pediu, demora 4 meses em vez das 3 semanas prometidas, vai embora deixando tudo sujo e manda a conta de um trabalho mal feito. Você contrata uma segunda pessoa para consertar o que o primeiro fez. Ninguém tem certificado, curso especializado nem nada. Tudo se aprende ali com a experiência, com os erros anteriores."

Mudando de asunto...

"O que mais me impressiona é a cultura. Acho uma pena que minha filha não possa fazer uma faculdade melhor porque a minha esposa não quer sair de Portugal. Isso porque os pais dela moram lá e estão mais velhinhos. Acho que eles seriam pessoas mais felizes se soubessem que os filhos tem uma vida melhor do que a que eles tiveram e que isso vai passando a cada geração. Mas infelizmente, não é assim que acontece."

Tudo isso foi feito num tom de crítica, mas me fez pensar muito sobre como nós, brasileiros, também somos um pouco assim. Não acho que exista certo ou errado, que os filhos devam ir para bem longe e esquecer os pais, até porque covenhamos que de onde ele veio um estudante universitário consegue trabalhar e pagar seu sustento sem grandes esforços e todas os velhinhos são super bem tratados pelo governo, tem plano de saúde e lares perfumados.

Mas toda essa conversa me fez refletir e acho que a gente deve mesmo é aproveitar os dois lados e achar um equilíbrio que funcione para cada um. E quem sabe algum dia nossos velhinhos também serão tão bem tratados.

1 comment:

Marilia said...

Acho muito interessante estas conversas que chegam a gente do nada.
Não consigo julgar a conversa deste senhor, frustrado ao ponto de desabafar assim.
Tenho certeza que o sonho de todos os pais é ver os filhos irem além do que eles foram. Mas, além não só nos estudos e realização profissional, mas também na construção de famílias lindas e realizadas emocionalmente.
Afinal AMOR, para mim, é o que nunca pode faltar. Ele é a base que vocês tiveram para poder estudar bem e se desenvolverem como adultos.
Beijos